
“The economic and financial instability that has rocked Europe and North America since 2008 has been a disaster for millions of people who have lost jobs, homes, and savings. Clearly in retrospect, governments were mistaken in this. Failures to regulate effectively allowed financial institutions to build houses of cards that would soon collapse. Governments tolerated the creation of a bubble in the housing market sustained by vast amounts of easy credit, perhaps linked to global financial imbalances.”
The Consequences of the Global Financial Crisis: The Rhetoric of Reform and Regulation
Wyn Grant and Graham K. Wilson
A dinâmica da economia mundial que começou a ser observada aquando da publicação das Perspectivas da Economia Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), mais conhecidas na sigla inglesa por World Economic Outlook (WEO), em Outubro de 2013, tornou-se visível com a publicação de Abril de 2014, revelando que a recuperação económica que nesse momento começava a consolidar-se nas economias avançadas está no momento a adquirir um alcance mais amplo.
A consolidação fiscal está a desacelerar, e os investidores estão menos preocupados com a sustentabilidade da dívida. Os bancos estão a fortalecer-se paulatinamente apesar de se estar muito longe de uma plena recuperação económica. O tema central de momento é a normalização da política monetária, tanto a convencional como a não convencional. Esta dinâmica implica uma mudança no retorno de capitais para as economias de mercados emergentes e em desenvolvimento. Um crescimento mais vigoroso nas economias avançadas implica uma maior procura das suas exportações.
A normalização da política monetária, no entanto, introduz condições financeiras mais restritivas e um contexto financeiro mais rigoroso. Os investidores serão menos tolerantes, e as debilidades macroeconómicas terão um custo mais elevado. Os riscos mais graves foram reduzidos, mas não desapareceram de todo. A recuperação económica nos Estados Unidos parece assentar sobre bases sólidas.
A Abeconomia, denominação dada à política económica do primeiro-ministro Shinzo Abe, no Japão, necessita de um aumento da procura privada interna para que a recuperação se possa sustentar. No sul de Europa não pode dar-se por consumado o ajuste fiscal, sobretudo se a taxa de inflação for baixa no conjunto dos países da zona euro. O Global Financial Stability Report (Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial) na sua última edição afirma que a reforma financeira é incompleta, e o sistema financeiro continua a apresentar riscos.
Surgiram riscos geopolíticos, ainda que não tivessem repercussões macroeconómicas de alcance mundial. Face ao futuro, a atenção deve centrar-se cada vez mais na oferta. Em muitas economias avançadas o crescimento potencial é muito baixo, o que é mau em si e dificulta o ajuste fiscal. Neste contexto, é mais importante tomar medidas que aumentem o crescimento potencial, que vão desde reconsiderar a estrutura das instituições do mercado laboral até melhorar a concorrência e a produtividade numa série de sectores de bens não transaccionáveis, bem como reconsiderar a dimensão do governo e examinar o papel do investimento público.
Ainda que, as evidências não se revelem muito claras, em muitas economias de mercados emergentes, o crescimento potencial também parece ter-se reduzido. Em alguns países, como a China, tal facto pode ser, em parte, um subproduto desejável de um crescimento mais equilibrado. Em outros países, sem dúvida existe uma margem para realizar algumas reformas estruturais a fim de melhorar a situação. Por último, à medida que os efeitos da crise financeira se dissipam lentamente, o cenário pode passar a ser dominado pelo aumento da desigualdade de rendimentos.
Ainda que, sempre se tenha encarado a desigualdade como um problema central, até há pouco tempo não era de acreditar que tivesse fortes repercussões nos resultados macroeconómicos, sendo questionada, cada vez mais, esta crença. Analisar de que forma a desigualdade afecta tanto a macroeconomia como o desenho da política macroeconómica, talvez seja um tema cada vez mais relevante nas agendas de trabalho dos governos e reuniões das instituições internacionais. A actividade mundial, em geral consolidou-se e é de esperar que melhore ainda mais no biénio 2014-2015, em grande parte devido ao impulso das economias avançadas.
No entanto, nestas economias a inflação situou-se abaixo das previsões, como consequência de quedas drásticas do PIB e de recentes descidas dos preços das matérias-primas. Em muitas economias de mercados emergentes a actividade tem estado abaixo do esperado num meio financeiro externo não tão favorável, ainda que este grupo continue a contribuir com mais de dois terços do crescimento mundial. Prevê-se que o crescimento dos seus PIBs seja estimulado pelo aumento das exportações às economias avançadas.
Existem no entanto, três excepções que são os riscos ligados aos mercados emergentes que se agravaram, como o facto da inflação nas economias avançadas se encontrar num nível inferior ao previsto indicando riscos para a actividade, e voltaram a surgir tensões geopolíticas. A volatilidade financeira, de novo, intensificou-se em finais de Janeiro deste ano, colocando em relevo os desafios que são postos às economias de mercados emergentes pela evolução do mercado externo.
A causa imediata parece ter sido a renovada ansiedade dos mercados à volta dos fundamentos económicos dos mercados emergentes. Ainda que a pressão do mercado tivesse sido relativamente generalizada, os países com níveis mais altos de inflação e deficits em conta corrente mais profundos foram em geral os mais afectados. Algumas dessas debilidades têm estado presentes durante algum tempo, mas face às perspectivas de melhor estabilidade nas economias avançadas, a atitude dos investidores é menos favorável devido aos riscos ligados aos mercados emergentes.
Face à possibilidade de que os fluxos de capitais mudem de direcção, os riscos relacionados com necessidades substanciais de financiamento externo e depreciações monetárias desordenadas constituem um motivo de inquietação. Algumas economias de mercados emergentes adoptaram políticas macroeconómicas mais restritivas a fim de reforçar a confiança e reafirmar o compromisso com os seus objectivos políticos. Globalmente, as condições financeiras para algumas economias de mercados emergentes são mais difíceis do que as apontadas na edição de Outubro de 2013 do WEO.
Jorge Rodrigues Simão, in “HojeMacau”, 04.07.2014