JORGE RODRIGUES SIMAO

ADVOCACI NASCUNT, UR JUDICES SIUNT

A Europa e as PME (II)

The History of Velcro

Velcro

“Globalization forces enterprises to maintain a recognizable impact on markets in both the Old and New Worlds, but this requires efforts sustainable only by either large enterprises or agglomerations of SMEs. On the other hand, the industrial systems of the Far East enjoy a competitive advantage based on very low wages, which can be only be counteracted by the use of newer and newer technologies, requiring investments too heavy for SMEs. These two issues have caused deep crises in several industrial sectors across Europe.”

 

A Road Map to the Development of European SME Networks: Towards Collaborative Innovation

Agostino Villa and Dario Antonelli

 

As faíscas da conexão revela o quão interessante é que tais ligações podem surgir de tudo quanto nos rodeia, quer da natureza, como dos negócios existentes. A ligação com a natureza, tem um caso assaz interessante que se deu quando um homem andava por um local com vegetação e se deu conta de que à sua roupa tinham aderido algumas plantas (comummente conhecidas como cardo).

Ao retirar os seus espinhos da roupa, deu-se conta que se fixavam fortemente ao tecido e que não se danificavam. A faísca da conexão permitiu unir uma situação com outra. O homem pensou que se conseguisse fabricar um material que imitasse este efeito, obteria algum produto adesivo que não existia no mercado. A ligação permitiu o aparecimento de um processo de investigação que o levou a desenvolver, nove anos mais tarde, a patente do que comercialmente se conhece com o nome de Velcro.

O homem passou a investigar a forma de usar o principio que observou na natureza e criou uma pequena empresa que produzia este tipo de material, tendo mais tarde concedido licenças de autorização de uso das patentes a várias empresas espalhadas pelo mundo que passaram a fabricar o produto. A Velcro é a marca registada da empresa que desenvolveu o sistema de “hook and loop fastener”, e se converteu num grande sucesso comercial ao utilizar em roupa desportiva de todo o tipo, roupa, sapatos, livros e acessórios para crianças, entre muitos outros produtos.

A Velcro é o resultado da faísca da conexão e está considerada entre as principias invenções que mudaram a história do mundo. A quantas pessoas se tinham aderido esses espinhos à roupa no passado? Aquele homem não foi o primeiro a debater-se com esse problema. No entanto, foi o primeiro que fez a ligação entre o que via na natureza e o potencial de um possível material adesivo que não existia no mercado. A sua curiosidade levou-o a tentar entender como a natureza tornava possível este tipo de aderência. A faísca (a ligação entre o que viu na natureza e um possível material novo) conduziu-o a reconhecer uma oportunidade empresarial.

É possível que existam centenas de elementos na natureza, que vemos e que muitos tenham passado pela experiência do engenheiro suíço Georges de Mestral, que inventou o velcro, em 1948. Tais elementos estão à espera de que alguém os relacione com outras possibilidades. As pessoas têm a aptidão para ligar o que se encontra na natureza aos negócios existentes. Ao fazer essas conexões é imaginável começar a reconhecer as múltiplas oportunidades empresariais possíveis de serem desenvolvidas.

Existe a história de alguém que fez uma conexão que lhe permitiu ver uma oportunidade e que agiu para a tornar realidade. A pessoa estava a navegar pela Internet quando encontrou uma informação que lhe prendeu a atenção de forma extraordinária. Encontrou dados estatísticos sobre o aumento incrível do uso da Internet nos últimos tempos.

A pessoa conectou este dado com a oportunidade de estabelecer um negócio de vendas por Internet e deu-se ao trabalho de averiguar os possíveis tipos de artigos que poderiam ser vendidos por esse meio. A lista que elaborou incluía discos compactos de música, programas de computador e livros. A análise mais profunda permitiu-lhe compreender que as livrarias tradicionais só podiam oferecer um número muito limitado de livros para venda. As grandes livrarias só oferecem, na realidade, um número reduzido de títulos em comparação com o grande número de livros publicados.

Todas estas ligações levaram-no a pensar na possibilidade de vender livros pela Internet e a criar uma loja virtual. Imaginou algo que nesse momento não existia que era uma mega loja virtual que pudesse oferecer aos consumidores muitos mais livros dos que normalmente se vendem numa grande livraria. Assim, graças à conexão, seguida da visão empresarial e por todas as acções para a tornar realidade, foi criada a Amazon.com, que é um exemplo da faísca da conexão e da faísca da visão empresarial.

Outro caso real é o de um jovem com um grande interesse pelos computadores e que empregou todo o tempo livre do primeiro semestre da universidade a comprar computadores obsoletos que modernizava ao fazer-lhes uma actualização e que depois, os vendia aos seus colegas. Os computadores, na altura, eram quase um luxo, pelo seu alto preço, tornando-os inacessíveis para a maioria das pessoas.

O jovem empreendedor, no processo de estabelecer um pequeno negócio desde o seu dormitório para fazer actualizações e vender computadores, compreendeu que podia vendê-los mais baratos porque ia directamente ao consumidor, sem ter de se apoiar em intermediários, visualizando um futuro no qual cada dia mais pessoas teriam computadores, os quais deixariam de ser um luxo para poucos e se converteriam numa necessidade para muitos.

O empreendedor com essas conexões mentais começou a imaginar uma empresa que vendia computadores directamente ao consumidor a preços mais baixos. Tudo isto facilitaria que mais pessoas pudessem adquirir computadores fazendo crescer o seu mercado. Converteu a sua visão empresarial em realidade ao criar uma empresa que vendia computadores a melhor preço, pelo facto de ir directamente ao consumidor (e que se conhece como venda directa).

A empresa desenvolveu-se e tomou por nome o sobrenome de seu criador. Assim se fundou a Dell Computer Company. A empresa, com o tempo, cresceu notavelmente vindo a ser uma das primeiras a fazer vendas directas ao consumidor através do seu sítio electrónico da Internet. É de assinalar que os fundadores da Amazon.com e da Dell Computers são considerados entre os empresários que revolucionaram o século XX e que são um grande exemplo de como conectar, ter visão empresarial e decidir fazer da visão uma realidade.

A curiosidade empresarial, mediante a formulação de perguntas, é uma das maneiras mais efectivas de imaginar e visualizar as possibilidades. O facto de se poder imaginar as possibilidades, permite-nos, ao mesmo tempo, reconhecer as oportunidades empresariais. As perguntas inteligentes são uma técnica para estimular a imaginação, para criar situações que nos obriguem a procurar alternativas e assim poder responder às perguntas.

Esta técnica é extraordinariamente efectiva para reconhecer a necessidade de obter respostas face a situações que, de outra forma, quiçá não se poderia imaginar. A sua importância pode-se constatar pelo facto de que aproximadamente 80 por cento da actividade de treino dos astronautas consiste em responder às possíveis situações que se criam com as perguntas do tipo “o que aconteceria se…?”. O que aconteceria se utilizassem esta técnica de perguntas? A resposta é que se irá obter muitas possibilidades, mais perguntas, e mais respostas que ajudarão a reconhecer as oportunidades empresariais. É uma matéria demasiado importante onde as PME soem falhar e que determinará o seu sucesso ou declínio.

É de considerar, uma outra técnica útil para estimular a curiosidade e conhecida como SCAMPER. O termo é um acrónimo formado pelas primeiras letras das palavras em inglês, substitute (substituir), combine (combinar), adapt (adaptar), modify or minify (modificar ou reduzir), put to other uses (dar outros usos), eliminate (eliminar), reverse or rearrange (investir ou reordenar). Utilizar esta técnica é muito fácil, e consiste em fazer várias perguntas relacionadas com os verbos anteriores para estimular a curiosidade, permitindo ao mesmo tempo, visualizar oportunidades empresariais.

As respostas obtidas ao utilizar diferentes perguntas com o método SCAMPER podem-se relacionar para continuar a procurar mais oportunidades empresariais. Os telefones celulares pequenos com múltiplas funções são um exemplo. A redução do tamanho desses telefones é parte das respostas às perguntas de como eliminar ou reduzir o tamanho.

O resultado das perguntas relacionadas com combinar, origina um aparelho que reúne telefone com calculadora, alarme, relógio, agenda, directório, capacidade de enviar e receber mensagens de texto, tudo numa unidade menor quando comparados com os primeiros telefones celulares que existiram no mercado. Usar estas técnicas para perguntar servirá no processo de estimular positivamente a curiosidade para reconhecer oportunidades empresariais.

A génese da empresa é a capacidade de reconhecer e tornar realidade as oportunidades empresariais. As empresas que se estabelecem pela inovação, e se mantêm com essa atitude, podem crescer e desenvolver-se. As empresas não inovam porque são grandes, mas são grandes porque inovam. É essa capacidade de inovação que deve ser um atributo chave para a gestão das PME, não só no momento da concepção da ideia empresarial, mas também durante a sua gestação, início de actividade, crescimento e desenvolvimento. A faísca empresarial é vital para se poder inovar no mundo das empresas, tanto para quem inicia uma PME, como para quem está a cargo da gestão durante o desenvolvimento da empresa.

As microempresas (de 0 a 9 trabalhadores) representavam 92,2 por cento do tecido empresarial na União Europeia (UE), em 2011. As pequenas empresas representavam 6,5 por cento, as médias 1,1 por cento e a grandes empresas 0,2 por cento. As PME representavam 99,88 por cento do tecido empresarial da UE. As PME europeias foram responsáveis pela criação de 67,4 por cento do emprego.

A Semana Europeia das PME realizar-se-á de 29 de Setembro a 5 de Outubro. O evento principal celebrar-se-á conjuntamente com a Assembleia das PME e a cerimónia de entrega dos Prémios Europeus de Promoção da Empresa, será nos dias 1, 2 e 3 de Outubro em Nápoles. Os Prémios Europeus à Promoção Empresarial, existentes desde 2006, recompensam a excelência no estímulo ao espírito empresarial e das pequenas empresas a nível nacional, regional e local. Mais de dois mil e quinhentos projectos têm participado neste evento desde a sua criação e, em conjunto, contribuíram para apoiar a criação de mais de dez mil novas empresas.

Os vencedores dos Prémios Europeus à Promoção Empresarial serão anunciados numa cerimónia de entrega de prémios na Assembleia das PME. Os objectivos dos Prémios são identificar e reconhecer as actividades de sucesso e as iniciativas realizadas para promover as empresas e o espírito empreendedor; apresentar e compartilhar exemplos das melhores políticas e práticas empresariais; criar uma maior conscientização do papel que jogam os empreendedores na sociedade e apoiar e inspirar os potenciais empreendedores.

Os objectivos da Semana Europeia das PME são os de proporcionar informação sobre as ajudas que a UE e as autoridades nacionais, regionais e locais oferecem às microempresas e às PME; fomentar o espírito empreendedor para que mais pessoas, e em particular os mais jovens, considerem seriamente a possibilidade de se converterem em empresários como uma alternativa profissional e reconhecer o trabalho dos empreendedores pela sua contribuição para o bem-estar, emprego, inovação e competitividade na Europa

 

 

Jorge Rodrigues Simão, in “HojeMacau”, 27.05.2014
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