JORGE RODRIGUES SIMAO

ADVOCACI NASCUNT, UR JUDICES SIUNT

Os impactos das alterações climáticas sobre a saúde

Public Health Impact of Climate Change

Health Impacts of Climate Change

ClimateHealthGraphic

“If the temperatures rise as leading scientists have predicted, less freshwater will be available-and already one-third of the world’s population (about 2 billion people) suffer from a shortage of water. Lack of water will keep farmers from growing food. It will also permanently destroy sensitive fish and wildlife habitat. As the ocean levels rise, coastal lands and islands will be flooded and destroyed. Heat waves could kill tens of thousands of people.”

Changing Ecosystems: Effects of Global Warming

Julie Kerr,

 

O clima mundial está a mudar devido ao aquecimento do planeta, é situação aceite pela comunidade internacional, incluindo a científica e a sociedade civil. Esta mudança pode afectar à saúde humana de diversas formas, como por exemplo, alterando o âmbito geográfico e a variação sazonal de algumas doenças infecciosas, perturbando os ecossistemas de produção de alimentos e aumentando a frequência de fenómenos meteorológicos extremos, como são os ciclones.

 

As alterações climáticas influem em determinantes ambientais e sociais da saúde, como sejam, o ar puro, água potável, alimentos suficientes e uma habitação segura. As alterações climáticas, causarão duzentas e cinquenta mil mortes a mais, em cada ano, entre 2030 e 2050, devido à desnutrição, paludismo, diarreia e stress térmico.

As doenças mais mortíferas, como as diarreias, desnutrição, malária e dengue, são muito sensíveis ao clima e é de prever que se agravarão com as alterações climáticas. As zonas com más infra-estruturas sanitárias, que se encontram na sua maioria nos países em desenvolvimento, serão as menos aptas a preparem-se para enfrentar as mudanças climáticas, se não receberem a conveniente e adequada ajuda.

A redução das emissões de gases de efeito de estufa, pela melhoria do sistema de transporte e das escolhas em matéria alimentar, assim como do uso da energia, podem trazer progressos significativos no sistema da saúde. A actividade humana, durante os últimos cinquenta anos, em particular o consumo de combustíveis fósseis, fez libertar enormes quantidades de dióxido de carbono e de outros gases de efeito de estufa suficientes para reter mais calor nas camadas inferiores da atmosfera e alterar o clima mundial.

O planeta, no século passado, aqueceu o aproximadamente 0,75 ºC. O processo acelerou-se nos últimos vinte e cinco anos, e é de 0,18 ºC, por década. O nível das águas do mar está a aumentar, os glaciares estão-se a derreter e os regimes de chuvas estão a mudar. Os fenómenos meteorológicos extremos são cada vez mais intensos e frequentes.

As repercussões das alterações climáticas na saúde são gravíssimas e os governos fazem-se de ignorantes. O aquecimento global pode ter alguns efeitos benéficos localizados, como uma menor mortalidade no inverno nas regiões temperadas e um aumento da produção de alimentos, em determinadas zonas, mas os efeitos das alterações climáticas para a saúde, serão certamente, muito negativos.

As temperaturas extremas do ar contribuem directamente para as mortes por doenças cardiovasculares e respiratórias, sobretudo entre as pessoas de idade avançada. A Europa, por exemplo, no verão de 2003, aquando das vagas de calor que a assolaram, registou setenta mil mortes.

As temperaturas altas provocam um aumento dos níveis de ozono e de outros poluentes do ar que agravam as doenças cardiovasculares e respiratórias. A poluição atmosférica urbana causa aproximadamente um milhão e duzentas mil mortes, em cada ano. Os níveis de pólen e outros alérgenos, também, são maiores em caso de calor extremo, podendo provocar asma, doença que afecta trezentos milhões de pessoas. É de prever que o aumento das temperaturas que se está a produzir aumentará esse agravamento.

A nível mundial, o número de desastres naturais relacionados com a meteorologia tem triplicado desde a década de 1960, e a cada ano, esses desastres causam mais de sessenta mil mortes, sobretudo nos países em desenvolvimento. O aumento do nível do mar e fenómenos meteorológicos, cada vez mais intensos destruirão residências, serviços médicos e outros serviços essenciais. É de considerar que mais de metade da população mundial vive a menos de sessenta quilómetros do mar e muitas pessoas poderão ver-se obrigadas a deslocar-se, o que acentua, por sua vez, o risco de efeitos na saúde, desde transtornos mentais até doenças transmissíveis.

A crescente instabilidade das precipitações afectará provavelmente o fornecimento de água doce, e sua escassez pode pôr em perigo a higiene e aumentar o risco de doenças diarreicas, que cada ano provoca seiscentas mil mortes de crianças de idade inferior a cinco anos. A escassez de água, nos casos extremos, causa seca e fome. As alterações climáticas, na última década, alargaram as zonas afectadas pelas secas, multiplicando por dois a frequência de secas extremas, e por seis a sua duração média.

A frequência e a intensidade das inundações, também estão a aumentar, poluindo as fontes de água doce, fazendo desenvolver o risco de doenças transmitidas pela água e dando lugar a criadouros de insectos portadores de doenças, como os mosquitos, para além de causarem mortes por afogamento e lesões físicas, danos nas residências e perturbações na prestação de serviços médicos e de saúde.

O aumento das temperaturas e a variação das chuvas reduzirão, farão reduzir em 50 por cento, a produção de alimentos básicos, em muitas das regiões mais pobres, particularmente em alguns países africanos até 2020, fazendo aumentar a predomínio da má nutrição e desnutrição, que actualmente causam três milhões e quinhentas mil mortes anualmente.

As condições climáticas têm grande influência nas doenças transmitidas pela água ou pelos insectos, caracóis e outros animais de sangue frio. É provável que as alterações do clima, prolonguem as estações de contágio de importantes doenças transmitidas e alterem a sua distribuição geográfica, prevendo, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde (OMS), um alargamento considerável das zonas da China afectadas pela esquistossomose ou bilharzíase, que é uma doença transmitida por caracóis.

A malária depende muito do clima. Transmitida por mosquitos, do género Anofeles, a malária mata quase um milhão de pessoas, em cada ano, sobretudo, crianças africanas de idade inferior a cinco anos. Os mosquitos da dengue (Aedes aegypti) são também muito sensíveis às condições climáticas. Os estudos efectuados levam a pensar que as alterações climáticas poderiam expor dois mil milhões de pessoas à transmissão da dengue na próxima década.

A medição dos efeitos sanitários das alterações climáticas, só pode ser efectuada por aproximação, não obstante, numa avaliação efectuada pela OMS, tendo em conta, apenas algumas das possíveis repercussões sanitárias, concluiu que segundo as previsões, as alterações climáticas causariam anualmente, duzentas e cinquenta mil mortes adicionais, entre 2030 e 2050, sendo trinta e oito mil por exposição de pessoas idosas ao calor; quarenta e oito mil por diarreia; sessenta mil por paludismo e noventa e cinco mil por desnutrição infantil.

A população mundial está em risco e será toda afectada pelas alterações climáticas, sendo alguns grupos mais vulneráveis que outros. Os habitantes dos pequenos estados insulares em desenvolvimento e de outras regiões costeiras, megalópoles e regiões montanhosas e polares são especialmente vulneráveis. As crianças, em particular, as dos países pobres, são uma das populações mais vulneráveis aos riscos sanitários daí resultantes e estarão expostas por mais tempo às consequências sanitárias, prevendo-se que os efeitos na saúde serão mais graves nos adultos e as nas pessoas que sofrem diversas enfermidades.

Existem muitas políticas e opções individuais que podem reduzir as emissões de gases de efeito de estufa e conseguir importantes benefícios colaterais para a saúde, como por exemplo, o estímulo ao uso seguro do transporte público e de formas de deslocação activa, a pé ou em bicicleta como alternativa aos veículos, poderia reduzir as emissões de dióxido de carbono e o agravamento que resulta da poluição do ar nas residências e a poluição atmosférica, que em cada ano provocam quatro milhões e trezentos milhões e três milhões e setecentas mil mortes, respectivamente.

A Assembleia Mundial da Saúde, principal órgão decisório da OMS, aceitou, em 2009, um novo plano de trabalho sobre alterações climáticas e saúde, que abrange as áreas da sensibilização, incluindo o incentivo à tomada de consciência sobre a grande ameaça que são as alterações climáticas para a saúde; as alianças, que abrange a coordenação com organismos associados do sistema da ONU, no sentido de fazer que a saúde ocupe o lugar que merece na agenda das alterações climáticas; a ciência e dados comprovativos, que abarca a coordenação das revisões de evidência científica existente, sobre a relação entre as alterações climáticas e a saúde, e elaborar uma agenda de investigação mundial e sobre o fortalecimento dos sistemas de saúde, que inclui a ajuda aos países, de forma a determinar os pontos vulneráveis dos seus sistemas sanitários e criar mecanismos para reduzir a vulnerabilidade da saúde às alterações climáticas.

 

 

Jorge Rodrigues Simão, in “HojeMacau”, 04.06.2015
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