HOJEMACAU- O PAPA AMERICANO (IV) - 28.08.2025
O conceito de "Ciência com Consciência", formulado por Edgar Morin, propõe uma integração profunda entre a investigação científica e os valores éticos. Edgar Morin, filósofo e sociólogo francês, é amplamente reconhecido pela sua abordagem da complexidade. Defende uma reformulação do pensamento científico que transcenda o reducionismo e incorpore dimensões humanas e éticas. A sua obra seminal, La Méthode, denuncia os riscos de uma visão fragmentada da realidade, propondo uma compreensão sistémica que abranja as interacções entre os domínios social, ecológico e tecnológico. No final do século XX, o avanço acelerado da tecnologia incluindo engenharia genética, inteligência artificial (IA) e degradação ambiental evidenciou a urgência de uma ciência que considere as suas repercussões sobre a humanidade e o planeta. Morin instou os cientistas a adoptarem uma perspectiva holística, reconhecendo a interdependência entre conhecimento e valores humanos.Ao longo das décadas, a sua influência expandiu-se por diversos campos. Na ciência ambiental, por exemplo, a relação entre sociedade e natureza tornou-se central. As mudanças climáticas exigem cooperação entre pesquisadores, governantes e cidadãos. Em 2025, temas como biodiversidade, restauração ecológica e sustentabilidade reforçam a necessidade de decisões pautadas pela ética. A abordagem transdisciplinar e dialógica proposta por Morin tornou-se essencial para enfrentar tais desafios. Na esfera da bioética, as suas ideias também se mostram pertinentes. A pandemia da COVID-19 revelou a importância de decisões médicas que respeitem direitos humanos e equidade. Em 2025, ao reflectir sobre os desdobramentos da crise sanitária, a comunidade científica reconhece a relevância de uma ciência que valorize a consciência moral na formulação de políticas e na condução de pesquisas. Diversos pensadores contemporâneos ampliaram o debate iniciado por Morin. Donna Haraway, com sua noção de "conhecimento situado", convida os cientistas a reconhecerem o seu contexto social e a responsabilidade colectiva envolvida na produção de saber. Bruno Latour, por meio da teoria actor-rede, destaca os factores sociais que moldam os factos científicos, incentivando uma reflexão sobre os impactos narrativos da ciência na sociedade. Peter Singer, filósofo da ética, defende a incorporação de princípios morais nas decisões que envolvem bem-estar colectivo, reforçando a urgência de uma ciência comprometida com a justiça. Com o avanço das tecnologias emergentes, como edição genética e IA, surgem dilemas éticos complexos. A inovação responsável conceito que preconiza a antecipação de impactos e a reflexão ética desde o início dos processos científicos ganha força como resposta ao chamado de Morin. No entanto, há quem argumente que a cautela excessiva pode frear descobertas urgentes. Esse embate revela a tensão entre progresso acelerado e prudência ética. A perspectiva de Morin propõe um equilíbrio que é reconhecer a complexidade dos sistemas e buscar harmonia entre inovação e responsabilidade. A criação de estruturas regulatórias que promovam avanços sem negligenciar o bem-estar humano é fundamental. A ausência de reflexão ética pode gerar consequências imprevisíveis, como demonstram os debates em torno da IA e da biotecnologia. O futuro exige uma ciência que dialogue com os grandes desafios globais como as mudanças climáticas, crises sanitárias e desigualdades sociais. Em 2025, a necessidade de abordagens integradas e éticas é evidente. Tecnologias como o CRISPR oferecem soluções promissoras, mas também suscitam questões morais sobre manipulação genética. A governança responsável dessas ferramentas requer não apenas conhecimento técnico, mas também compromisso ético. A pandemia transformou a percepção sobre a pesquisa científica, evidenciando a importância da cooperação internacional. A equidade no acesso a vacinas e tratamentos tornou-se um imperativo ético, reforçando a ideia de que a ciência deve buscar não apenas conhecimento, mas também justiça. A educação desempenha papel crucial na formação de cientistas conscientes. A incorporação da ética nos currículos académicos é essencial para preparar pesquisadores capazes de enfrentar questões complexas com responsabilidade. Essa mudança promove uma cultura científica mais sensível às implicações humanas das suas descobertas. Assim, a proposta de Edgar Morin sobre uma "Ciência com Consciência" adquire renovada relevância em 2025, diante de desafios que entrelaçam ciência, ética e valores humanos.o seu legado ilumina o presente, inspira práticas interdisciplinares e alimenta debates sobre o papel da moralidade na pesquisa. A convergência entre conhecimento e consciência não é apenas desejável mas indispensável. Ao integrar princípios éticos à investigação científica, pavimentamos um caminho onde o progresso serve à humanidade com integridade e discernimento. Assim, honramos a visão de Morin e contribuímos para um futuro mais justo e solidário.