Faber: Yuan devaluation is completely meaningless
Desvalorização do yuan ensombra bolsa chinesa e economias emergentes

“Capital is money, capital is commodities. By virtue of it being value, it has acquired the occult ability to add value to itself. It brings forth living offspring, or at the least, lays golden eggs. Now for the first time in over half a millennium it is the East that is in the ascendant, China and India in particular. Economic forecasts already predict that America will cede its top spot as the world’s largest economy to China by 2027.”
How the West was Lost: Fifty Years of Economic Folly - And the Stark Choices Ahead
A primeira reacção do mercado global pela desvalorização de 2 por cento do yuan, efectuada pela autoridade monetária chinesa, a 11 de Agosto de 2015, com o fim de tornar mais caras as suas importações, resultou na queda do preço do petróleo e outras mercadorias. A medida, tomada pelo Banco Central de China, deu-se num contexto de abrandamento do crescimento da economia do país e consequente necessidade de contornar o estratagema do consumo interno, para se recuperar a partir da expansão das suas exportações, e teve como efeito pôr em estado de alerta todos os mercados, incluídos os de mercadorias.
A desvalorização da moeda chinesa teve um impacto negativo nos preços do petróleo, pois a China terá de pagar mais pelo crude. O ajuste na taxa de câmbio não vai corrigir todos os males do sector externo da China, que sofre com os custos crescentes da mão-de-obra e com problemas de qualidade, ainda que ajude a aliviar a pressão deflacionária.
As sucessivas mini desvalorizações da divisa chinesa reavivaram uma polémica e fizeram ressurgir um debate. A polémica é a de saber se é uma tentativa deliberada para ajustar-se à nova realidade global, e daí um verdadeiro sucesso do livre mercado, ou é um sintoma da debilidade da economia chinesa que continuará a curto prazo.
O debate, que ressurgiu, é a respeito de saber uma vez mais, se estamos perante uma batalha de divisas entre as principais economias do mundo. A partir dessa perspectiva, a acção é entendida como uma forma de estimular o crescimento das exportações, depois do fortalecimento da principal divisa mundial, o dólar americano. A taxa de crescimento anual da grande economia asiática prevê-se que seja de 7 por cento, sendo muito provável que no final do ano se venha a situar entre os 5 e 6 por cento.
Se assim acontecer, serão necessárias, outras correcções cambiais para restabelecer a rota. O crescimento suportado no aumento constante das exportações é uma política abandonada há longo tempo. O investimento e o consumo interno são os motores do crescimento. A expressão de guerra de divisas tem um atractivo enorme e ressuscita o debate, sempre que se produz alguma modificação significativa entre divisas inter-relacionadas.
Os Estados Unidos, Europa e restantes países desenvolvidos, há cinco anos preparavam-se para imprimir moeda, comprar obrigações e títulos desses mesmos países, o que sem dúvida criaria inflação, e eventualmente desvalorização. As economias emergentes defendiam-se, não permitindo a flutuação das suas moedas e impunham restrições. A China recusou a pressão e não permitiu a apreciação do yuan. O ministro das Finanças do Brasil, não imaginava ser conhecido ao baptizar mundialmente um processo, quando em meados de Setembro de 2014, afirmou que tinha explodido uma guerra de divisas.
O sucesso não se mediu apenas em termos de referências nos meios de comunicação social. A expressão converteu-se num lugar-comum dos máximos dirigentes da economia e das finanças mundiais. A época foi intensa em matéria de reuniões internacionais, como as do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial entre 8 e 10 de Outubro de 2014, precedidas e seguidas de muitas outras com todo o tipo de siglas. Os países, seus funcionários públicos e técnicos acusaram-se mutuamente de distorcer a procura global recorrendo a intervenções monetárias, controlos sobre os movimentos de capitais e desvalorizações encobertas, havendo por trás de todos estes ríspidos debates, ameaças de medidas mais agressivas e acusações cruzadas.
A existência de uma guerra pressupõe pelo menos três batalhas, sendo a primeira e principal, a respeito da relutância da China de permitir que o yuan se apreciasse mais rapidamente. O que reclamavam os Estados Unidos e a Europa à China era a dinâmica danosa de uma moeda subvalorizada. O secretário do Tesouro americano recordou que a excessiva acumulação de reservas (no caso chinês) empurrava para um cenário com sérias distorções para a economia global.
O Congresso americano, pouco tempo antes, tinha aprovado uma lei que autorizava impostos de protecção contra os países com divisas subvalorizadas. O risco de confronto directo entre os Estados Unidos e a China não pode ser desconsiderado, e a segunda batalha tem origem na política monetária dos países desenvolvidos que teriam de imprimir moeda para comprar as suas obrigações e títulos, o que sem dúvida criaria inflação nesses países e eventualmente desvalorização.
A terceira batalha concerne com o desenvolvimento dos países emergentes e para responder aos erráticos movimentos de capitais impuseram restrições, impostos ao rendimento de capitais estrangeiros e intervieram nos mercados financeiros adquirindo divisas, antes de deixar flutuar as suas moedas. O Brasil, por exemplo, duplicou o imposto à compra de dívida interna por parte de investidores estrangeiros. Sem dúvidas, existem atritos entre uma moeda pretensamente forte e inflexível, o yuan chinês, e uma considerada débil, o dólar.
Todavia, o problema real é o de como gerir um ajuste económico geral. Os Estados Unidos acabarão por ganhar a guerra porque têm uma munição interminável, que é o dólar e não existem limites à sua emissão. Pode-se argumentar que no momento se tratam apenas de escaramuças, mais que uma guerra e não se deve subestimar o seu potencial de conflito. A verdade indubitável é que a divergência de políticas económicas em todo o mundo e o modesto crescimento económico esperado nas grandes economias permitem admitir que o conflito e o risco de guerra aberta durarão vários anos.
O presidente do Bundesbank alerta que se está a dar uma evidente perda de independência dos bancos centrais dos países industrializados, o que implica uma guerra de divisas. É de imaginar o fim da era em que os bancos centrais foram independentes e foi durante a década de 1990, em pleno auge do neoliberalismo, que a maioria das democracias ocidentais optaram por dar poder de decisão aos seus bancos centrais.
A Hungria e o Japão são dois dos muitos exemplos de alerta sobre a perda de independência actual dos bancos centrais. As consequências, intencionais ou não, serão a politização da taxa de câmbio das moedas nacionais. Os ministros das Finanças do G20, reunidos na Rússia, em Fevereiro de 2013, prometeram lutar contra a evasão impositiva das empresas multinacionais e contra a guerra de divisas.
Os temores surgiram com as medidas do Japão que motivaram uma desvalorização do iene, com a consequente ajuda aos seus exportadores e meses mais tarde, em Outubro de 2013, quando a economia real começou a despontar nos países desenvolvidos, nos emergentes explodiu a mãe de todas as borbulhas de activos inflacionados com crédito, como denominou Nouriel Roubini e parecia que estavam a perder oxigénio rapidamente, depois do anúncio da Reserva Federal de proceder ao corte de combustível que as tinha alimentado.
Existem duas explicações que circulam com prodigalidade para o que está a acontecer, sendo a primeira a afirmar que a era do dinheiro abundante e fácil terminou, nas elogiadas economias emergentes e a segunda o das economias que criam ter descoberto a separação com as economias desenvolvidas e voltam a retomar o velho ciclo de auge, excessos, crises e reformas até atingir outro período de apogeu.
Existe quem afirme que o famoso “stop and go” retornou com os seus períodos de recessão e agitação política, enquanto outros preferem deixar de pensar no curto prazo, pois em pouco mais de uma década a humanidade será testemunha de um das mudanças mais transcendentais ocorridas em mais de um século, pois prevê-se que em 2030 parte do PIB global da China, medida em termos de PPP (Purchasing-Power Parity) será o dobro da dos Estados Unidos, sendo o que interessa e que alterará todo o cenário existente.
O que acontece no presente deve-se ao facto de há mais de cinco anos que a Reserva Federal dos Estados Unidos, têm vindo a aplicar uma política de dinheiro barato, injectando no mercado cerca de oitenta e cinco mil milhões de dólares por mês, emprestando aos bancos a taxas de juro muito próximas de zero e ao mesmo tempo elevando os preços das obrigações e acções, consistindo na denominada “flexibilização quantitativa” que basicamente, consiste em imprimir dólares sem suporte, dado ser o único país emissor a nível mundial.
A estratégia da “flexibilização quantitativa” foi correcta para superar a tremenda crise financeira de 2008, evitando bancarrotas e falências em todos os sectores. Quando se manteve a política depois das taxas de juro se situarem próximo de zero por cento, entrou-se em território desconhecido, existindo no presente borbulhas de todo o tipo, prontas para rebentar nas economias emergentes. As políticas monetárias heterodoxas do mundo desenvolvido injectaram nos últimos anos um montante anual de cerca de mil milhões de dólares nos mercados emergentes.
Tal massa monetária traduziu-se num ritmo de crescimento creditício insustentável, borbulhas de preços e maior vulnerabilidade dos países aparentemente beneficiados. É tempo de reconhecer que estas dificuldades são produto de desequilíbrios que se originaram primeiro nos países desenvolvidos e como os países emergentes são cada vez mais importantes no ritmo do crescimento global, a política interna dos Estados Unidos e de outras economias ocidentais põe em risco o processo de crescimento mundial.
A China, uma superpotência cuja fragilidade produz a ansiedade geral, pois basta pensar que o aumento das taxas de juro se podem vir a dar com a sua enorme repercussão global. A Grécia, por exemplo, pode pagar alguns créditos e juros vencidos, porque o Parlamento alemão aprovou o terceiro resgate, o que não quer dizer que o país tenha terminado a sua tragédia.
É necessário recordar que após o colapso da bolsa de valores dos Estados Unidos, em 2008, e a consequente contracção de cerca de 3,5 por cento do PIB em 2009, os investidores conduziram os seus fundos para os mercados emergentes, cujas economias estavam a crescer a uma taxa anual superior a 3 por cento. O índice da bolsa americana caiu, no início do ano transacto, em grande parte por causa dos problemas financeiros nos países emergentes. As economias do Brasil, China, Índia, Rússia, Tailândia e Turquia, pioraram em parte devido à retirada de dólares dos investidores estrangeiros.
A China é uma rocha inamovível e parece que nestes últimos dias bamboleia. A questão é a de saber se os movimentos oscilatórios são um mecanismo de ajuste para continuar um crescimento sólido e estável, ou se revela uma fragilidade que a pode derrubar? Assim se explicam, os recentes movimentos chineses com as suas mini desvalorizações que tiveram impacto em todos os mercados bolsistas do mundo. Uma borboleta bate as asas na China e produz um temporal em Nova Iorque e Londres.
O efeito de surpresa tem a ver com os antecedentes. É a primeira vez que China recorre a este mecanismo desde que é uma grande potência. A primeira guerra de divisas ocorreu na década de 1990 e registou desvalorizações nervosas nas principais economias, ávidas de recuperar a competitividade. A China, em transformação, manteve a sua taxa de câmbio firmemente alinhada com o dólar, e ajudou a controlar a desordem, tendo em 2008, acontecido o mesmo.
Ainda que, o sistema financeiro global parecesse estar à beira do precipício, o yuan continuou fixo na sua paridade com o dólar, e o país lançou um pacote de estímulos ao consumo interno que favoreceu o comércio externo dos seus parceiros comerciais. O inquietante é que não se divisa nenhuma crise, altera a situação existente e produz pequenas desvalorizações que fortalecem a sua posição.
Se a questão é apenas de melhorar a sua posição face a outras moedas que se fortalecem, não seria tão grave. O verdadeiro temor é que esses movimentos revelem uma crise mais profunda e duradoura da economia chinesa. É a tese dos que sustentam que, depois de trinta anos de modelo económico bem sucedido, chegou o momento de pagar o preço de tamanho crescimento.
A ser verdade, o problema será global. Por enquanto, o yuan não foi aceite como divisa integrante do cabaz de moedas do FMI. A decisão será tomada até ao final do ano. A segunda-feira negra, de 24 de Agosto de 2015, assim denominada dado a Bolsa de Xangai, ter caído 8, 49 por cento, estando o mercado bolsista chinês a registar diariamente perdas consideráveis, levando o pânico aos mercados mundiais, tudo por temor de uma desaceleração da China.