JORGE RODRIGUES SIMAO

ADVOCACI NASCUNT, UR JUDICES SIUNT

A era das megacidades

 mega

“The rise and decline of great cities past was largely based on their ability to draw the ambitious and the restless from other places. China’s cities are on the rise. Their growth has been fuelled both by the large-scale internal migration of those seeking better lives and by government initiatives encouraging the expansion of urban areas. The government hopes that the swelling urban populace will spend more in a more highly concentrated retail environment, thereby helping to rebalance the Chinese economy towards private consumption.”

 

Supersized cities - China’s 13 megalopolises

The Economist Intelligence Unit 2012

 

A Ásia terá mais de vinte das primeiras cinquenta cidades mundiais ordenadas pelo seu PIB no ano de 2025. No mesmo período, mais da metade das primeiras cinquenta cidades europeias sairão da lista ora existente, o mesmo acontecendo com três cidades dos Estados Unidos.

As cidades de Xangai e Pequim, neste novo cenário, excederão as cidades de Los Angeles e Londres, e as cidades de Mumbai, antiga Bombaim, centro económico e financeiro da Índia e tão importante a Portugal nos séculos XVI e XVII e de Doha superarão as cidades de Munique e Denver.

As implicações dessas alterações serão profundas, quanto às estratégias a aplicar, tendo em vista o crescimento das empresas, relações económicas dos países e a sustentabilidade do mundo. Um dos exemplos mais relevantes da mudança global, manifesta-se na tendência acelerada para a urbanização, com a formação de cidades de grande dimensão e megacidades em todos os continentes, e em particular nos países em desenvolvimento.

As cidades desse tipo, têm a característica de amontoarem enorme população, capitais, recursos e bens de toda a espécie e natureza. A transformação e densificação da população conduzem a uma transição urbana. Tal transição, está produzir-se com uma rapidez que põe à prova a capacidade de resposta, adaptação e inovação do ser humano. A população das cidades cresce anual e mundialmente em cerca de sessenta milhões de habitantes.

A ONU designou de megacidades as urbes com mais de dez milhões de habitantes. O forte crescimento económico da China está a criar sérios e graves desafios de política urbana. A migração em massa para as cidades acarreta a perda de terras aráveis, aumentando a procura de energia e recursos naturais, bem como acrescenta um novo problema a ser resolvido em termos de política social, que é o da prestação de serviços sociais.

As cidades chinesas albergam no presente cerca de seiscentos milhões de habitantes, representando 45 por cento da população total do país, apresentando os Estados Unidos comparativamente mais de 80 por cento da sua população total. Assim, as cidades chinesas irão crescer muito mais no futuro próximo, e prevê-se que em 2025 acolham mais trezentos e vinte e cinco milhões de pessoas, o que significa que duzentas e trinta milhões de pessoas migraram da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades).

A continuar a seguir a actual tendência, a população urbana da China atingirá cerca de novecentos e trinta milhões de habitantes em 2025 e passará dos mil milhões em 2030. A acelerada urbanização concorrerá para o crescimento do PIB, mas também acarretará sérios reptos. A procura de energia será mais do dobro da actual e a da água aumentará entre 80 a 100 por cento nas áreas urbanas.

A prestação de serviços sanitários e de educação aos novos habitantes, trará um encargo adicional às finanças municipais. A forma de urbanização escolhida, mais concentrada ou dispersa, poderão conduzir à perda de 8 por cento a 20 por cento das terras aráveis do país.

A propagação das cidades, com enormes “bidonville” de miséria, criminalidade, marginalidade e exclusão social, além de excesso de poluição e congestão de tráfego, são alguns dos problemas que as cidades em todo mundo terão de fazer face. Será quase impossível os serviços municipais, e as infra-estruturas acompanharem o ritmo de entrada de pessoas nas cidades.

As decisões que forem tomadas no presente pelos governos, determinarão se as cidades conseguirão suportar o crescimento no futuro. Tal problema, põe-se com maior acuidade na China e Índia. O mundo urbano está em mutação. As grandes áreas urbanas das regiões desenvolvidas, apresentam-se como gigantes económicos.

A metade do PIB global provinha de cerca de quatrocentas cidades situadas em regiões desenvolvidas do mundo, e cerca de duzentas cidades americanas produziam mais de 20 por cento do PIB global, há cinco anos. Actualmente, mais de metade do PIB global vem da Ásia.

O centro de gravidade do mundo urbano, está a deslocar-se para o Sudeste Asiático, fundamentalmente para a China, que nos próximos quinze anos, terá cem cidades com as características referidas e que contribuirão com 30 por cento do PIB global. Ainda que o Sudeste Asiático possa vir a ser a região de maior peso económico, tendo como líder a China, é de considerar a Índia que contribuirá com 3 por cento do PIB global e a América do Sul com 4 por cento.

Um terço das grandes cidades situadas em países desenvolvidos não pertencerão ao grupo das primeiras seiscentas cidades no final de 2025, e uma em cada vinte das cidades dos países emergentes têm tendência a desaparecer, igualmente desse grupo. No final desse ano, cerca de cento e quarenta novas cidades entrarão no referido grupo, sendo cem pertencentes à China.

O desenvolvimento e a implementação de uma estratégia centrada nas economias dos países desenvolvidos e nas megacidades dos países emergentes, era algo lógico até ao presente, porque tal combinação contribuía com mais de 70 por cento do PIB global. As grandes cidades dos países desenvolvidos podem vir a contribuir, em apenas um terço para o crescimento económico global até 2025.

Uma estratégia concentrada nessa combinação será deficiente para as empresas que procurem crescer, sendo um erro pensar que as megacidades impulsionaram o crescimento económico global nos últimos quinze anos. A maioria das megacidades, não cresceram mais rápido do que as economias dos países onde estão localizadas.

Um total de cerca de 580 cidades de média dimensão, com populações variáveis entre o milhão e meio e os dez milhões de habitantes, contribuirão em mais de 50 por cento para o crescimento económico global até 2025, em que parte dessa participação é retirada às megacidades.

É previsível que treze das cidades de média dimensão se venham a tornar megacidades até 2025, estando doze situadas em países emergentes, à excepção de Chicago, e sete serão chinesas. É previsível que as cidades de grande e média dimensão situadas nos países emergentes contribuam com mais de 45 por cento para o crescimento económico mundial até 2025.

A nível mundial, quatrocentas cidades de média dimensão contribuem com cerca de 40 por cento para o crescimento económico global, ou seja, superior ao total dos países desenvolvidos e das megacidades dos países emergentes. O papel económico das cidades de grande dimensão altera-se em conformidade com a região e padrões futuros de crescimento.

O veloz crescimento da China é alimentado pelo contínuo desenvolvimento das suas megacidades e das novas em formação. A urbanização na Índia está numa fase inicial, enquanto as cidades de média dimensão, desenvolvem-se nos países sul-americanos de maior economia.

É irreal o mito do método científico como o único capaz de definir a forma de explorar os mercados urbanos dos países emergentes. Eleger os mercados adequados é um trabalho que exige a combinação da inteligência e estudo minucioso do mercado, com a informação específica sobre cada empresa, tendo em vista determinar o potencial das diferentes geografias urbanas e o custo da sua penetração.

Uma estratégia baseada em “clusters de cidades” é uma opção atraente para muitas empresas, especialmente em grandes países como a China e a Índia que têm importantes diferenças regionais nos seus mercados. Essa estratégia está a ser aplicada pela China, desde o início de 2009, em que o governo decidiu organizar as cidades em “clusters” para combater a poluição atmosférica.

O crescimento económico mundial nos próximos quinze anos, irá ser impulsionado por quarenta cidades que não são citadas amiúde. Essas cidades de dimensão intermédia contribuirão com 40 por cento do crescimento económico mundial. As prioridades capitais dos próximos anos, será o de conhecer os gostos dos consumidores nas cidades de média dimensão, desenhar estratégias para penetrar nos seus mercados e decidir como distribuir os recursos.

As empresas terão de formar executivos com os conhecimentos necessários para aproveitar o crescimento urbano global. Existem cidades nos países emergentes que estão a crescer rapidamente, e que podem atingir o limite de dez milhões de habitantes a curto prazo. Essas futuras megacidades, podem contribuir em grande parte para o crescimento económico dos anos vindouros.

Jorge Rodrigues Simão, in “HojeMacau”, 07.12.2012
Share

Pesquisar

Azulejos de Coimbra

coimbra_iii.jpg