“To modern science, dualism still holds good as a way of dividing the world into two kingdoms, those of mind and of matter, the cultural and the natural spheres. Non-intervention is still the easiest compromise and one which ensures that both the humanities and the natural sciences can get on with their work undisturbed. And it is this boundary that biosemiotics seeks to cross in hopes of establishing a link between the two alienated sides of our existence-to give humanity its place in nature.”
Signs of Meaning in the Universe
Jesper Hoffmeyer
O conceito de biosemiótica foi pela primeira vez usado pelo bioquímico dinamarquês Jesper Hoffmeyer, professor do Instituto de Biologia da Universidade de Copenhaga, na sua digressão pelos aspectos teóricos da biologia, ao referir-se a uma nova propriedade emergente de todos os sistemas vivos e que apareceu no planeta com a origem da vida e foi aumentando com a evolução. A sua argumentação teórica é desenvolvida no fundamento de que a biosemiótica, constitui uma ponte entre a história dos sistemas termodinâmicos e a humana no seu sentido cultural. É defensor do pensamento de que o estudo das ciências da vida, relativamente à comunicação, progrediu em duas direcções. A primeira, explica os fenómenos de comunicação da informação em mecanismos genéticos e moleculares. É um reducionismo genético e molecular.
A segunda, presentemente em desenvolvimento, é designada por semiotização da natureza, valorizando a etologia, como disciplina que estuda os padrões de comportamento específicos das espécies animais, por meio do processo de selecção natural, tendo como cientista destacado o etólogo austríaco, Konrad Lorenz, galardoado em 1973, com o prémio Nobel da Fisiologia/Medicina, pelos estudos que realizou nessa área do saber. Esta corrente de pensamento recebeu influência também das ideias defendidas pelo antropólogo, linguista e semiótico americano, Thomas Seboek. Assim, na esteira destes pensadores, a etologia é um caso particular de semiótica ao longo dos tempos, ou os desenvolvimentos da sociologia biológica e comunicação na espécie animal, base da exo-semiótica, ou seja, externos aos organismos vivos, são anteriores a esta segunda teoria.
A semiótica no sentido moderno, ainda que tenha desaparecido do panorama das ciências sociais como prática, tem de facto estado presente como sensibilidade. O conhecimento do significado do ADN e a transcrição genética, bem como o papel dos sinais internos das células para estimular a cópia para a síntese de novas biomoléculas, demonstram a existência de mecanismos intracelulares de comunicação, ou uma semiótica interna (endosemiótica). Em sentido oposto, que centraliza no ADN toda a manifestação da informação biológica, existe a ideia crítica que afirma que as células acumulam um passado evolutivo, muito amplo, que se forma nas suas estruturas, do mesmo modo que um embrião manifesta ao longo do seu desenvolvimento, as formas do seu passado evolutivo.
Os avanços têm fundamento não apenas no ADN, mas também, no passado histórico que se revela morfológica e fisiologicamente na célula e que conforma o seu comportamento, ou seja, que a informação genética manifesta-se de uma forma relativamente condicionada pelo contexto material, que tem uma origem histórica ou evolutiva. Os conhecimentos obtidos permitem afirmar, por referencia à semiótica natural, que a comunicação biológica não foi estudada como um fenómeno que requer uma teoria especial ou um modelo, mas como uma desordenada acumulação de experiências das diferentes disciplinas biológicas, relativas à existência de sinais ligados a processos na natureza.
As explicações dadas aos fenómenos de comunicação, para os biólogos, reduzem-se com frequência à existência de mecanismos moleculares mal conhecidos, que se estabeleceram ao longo da evolução por selecção natural e, que requerem uma ulterior investigação, refugiando-se pois, no determinismo genético e molecular, que trava o desenvolvimento de uma teoria sobre a biosemiótica. Os avanços relativos ao entendimento da evolução dos sistemas complexos, revelam que a vida é um processo criativo. Os sistemas afastados do equilíbrio termodinâmico, tendem a auto-organizarem-se, a produzir maior ordem, sem cair na entropia ou no caos.
Neste modelo conceitual, a vida e a sua evolução deram lugar a múltiplas formas e sistemas de organização e de comunicação, em que o homem e as suas actividades e criações se encontram imersos. Formas e sistemas de comunicação que se foram desenvolvendo ao longo da evolução. Os mecanismos de funcionamento e organização social e cultural não são mais do que um caso particular desta evolução da vida no planeta e, por conseguinte, o seu funcionamento nos sistemas mais gerais e complexos deve estar apoiado em mecanismos surgidos em outros sistemas.
Assim, com este tipo de argumentação, é possível justificar que os conhecimentos da semiótica social poderiam ter muito provavelmente uma projecção na biosemiótica, bem como o oposto. Neste sentido, Jesper Hoffmeyer, afirma que a biologia pode ser um ponto de passagem ou contacto entre a física e as novas ciências e as humanidades, uma vez que a biologia usa métodos e princípios científicos da física e da química, como uma manifestação da natureza física da matéria e vinculando-a de forma definitiva, considerado o homem um ser biológico imerso num contexto ecológico, ou num sistema eco-social de natureza semiótica e material e defende a existência de sistemas de comunicação com o meio ambiente em todos os níveis de organização biológica, desde as bactérias ao homem.
Os mecanismos mais simples têm propriedades como a quimiotaxia (processo de deslocação de células para um gradiente químico) e fototaxia ou fototropismo (processo de deslocação de alguns seres vivos, em particular determinadas plantas que respondem à luminosidade, como por exemplo, o girassol, em relação ao movimento do planeta em relação ao sol), segundo as quais as bactérias podem reagir seguindo variantes de concentrações de nutrientes ou da luz do seu meio ambiente. As bactérias, por sua vez, alteraram pelo uso dos nutrientes, por exemplo, no seu meio ambiente. No decurso da evolução os organismos que tiveram a capacidade de aumentarem as suas interacções semióticas, foram os que se desenvolveram e estão presentes na biosfera.
Os aspectos semióticos dos processos materiais foram aumentando gradualmente, tendo em vista uma maior autonomia ou auto-organização dos organismos. No decurso da evolução esta tendência deu lugar, nos limites mais conhecidos, a sofisticados sistemas semióticos, como a linguagem ou o pensamento no homem e muito provavelmente também em outros animais, tal como sugerem os estudos etológicos no chimpanzé, por exemplo. A ecologia, adentro das ciências biológicas, veio a interessar-se pelas propriedades emergentes dos ecossistemas, entre as quais, a informação e a sua transmissão que têm uma enorme importância.
No futuro é provável que se constate a natureza semiótica dos elementos dos ecossistemas e destes na sua globalidade, e que a ecologia teórica se desenvolva incorporando as formações semióticas num novo nível de integração. Assim, muitas observações sobre a dinâmica do ecossistema mostram possuir uma natureza semiótica. No entanto, a informação toma formas diferentes das que são reconhecíveis a partir da semiótica social.
Uma população do ecossistema apresenta uma dinâmica de crescimento dependente do seu meio ambiente e de factores específicos, como a presença de alimento, espaço disponível, estado inicial da população, crescimento vegetativo nesse momento, presença de competidores, características do ambiente físico-químico, entre outros. Segundo essas circunstâncias, a população em conjunto cresce, decresce ou mantém-se, ou seja, dirige-se a um estado, em função dos significados ecológicos precisos do momento e do contexto ambiental.