“A community is simultaneously a social system and a dynamic, open biophysical system. We need to build confidence in our ability to articulate viewpoints that have never had the opportunity to speak for themselves effectively. We need to learn that we can cope with far more open conflict of interests and values than we have in the past. We need to see that better decisions are made when all interests are truly represented, and that no single viewpoint can ever be either comprehensive or objective. We need to grow jealous of our right to speak for ourselves.”
Talking Science: Language, Learning, and Values
Jay L Lemke
A obra arquitectónica além dos elementos físicos, funcionais e estruturais, considera o processo social e individual incluído no desenho e posterior uso. A amplitude deste quadro implica um conjunto de conhecimentos apropriados, como sejam, a psicologia, sociologia ou semiótica. Trata-se de um sistema muito complexo que dificilmente pode ser compreendido na totalidade, tal como sucede com os sistemas estritamente naturais. A constatação de tal facto não deve limitar as tentativas de modelizar o sistema, ainda que de forma parcial, em benefício de um modelo construtivista do conhecimento.
Os lucros teóricos de uma teoria da arquitectura com suporte numa concepção sistémica da natureza, dão-se pelo facto de a sociedade auto regular os acontecimentos e realidades, colocando-os no lugar mais correcto, à semelhança do que sucede e ocorreu em outros campos disciplinares. O aspecto mais problemático em termos de entendimento da obra arquitectónica, como sistema relaciona-se com o desenho e a sua avaliação.
A pergunta basilar que ocorre, é a de saber se é possível estabelecer ligações entre quantidades estabelecidas em medidas derivadas de um método científico e as qualidades estéticas da obra, uma vez que estas dependeriam das valorações subjectivas dos indivíduos (sociedade), ou seja, a valoração estética é uma característica idiossincrásica e única de cada indivíduo, ou é um construção cognitiva individual, enquadrada numa formação semiótica da natureza social e histórica.
O professor Jay Lemke, da Universidade de Michigan, tem vindo a desenvolver um vasto trabalho que se estende por vários campos do conhecimento, desde a “Educação Urbana”, “Pós-modernismo”, “Semiótica Social” até à “Dinâmica Eco-social”. O seu livro “Talking Science:Language, Learning, and Values”, revolucionou o método da investigação e prática do ensino das ciências. É sobre este excepcional trabalho e outros correlacionados que temos vindo a imaginar soluções, enquadrar situações e a elucubrar conclusões.
É de recomendar o seu estudo obrigatório nos cursos de “Arquitectura e Urbanismo”, mas também em outros campos disciplinares, com aqueles relacionados, em trabalho interdisciplinar tão necessário e pouco considerado. É no âmbito dos sistemas complexos que o professor Jay Lemke propôs o conceito de sistema eco-social. Esta perspectiva permite integrar as práticas sociais num contexto ecológico, considerando-as como o resultado de uma negociação de significados de natureza semiótica. Propõe ainda, que os sistemas humanos socioculturais são essencialmente sistemas de práticas sociais, unidas a formações semióticas de natureza histórica e cultural e que tomam um significado.
Os processos de base material num sistema eco-social complexo, estão hierarquicamente organizados. O desenvolvimento dos processos e práticas sociais, fomentam o desenvolvimento e evolução do sistema eco-social. As relações dialécticas que se produzem entre as separações materiais e os conteúdos semióticos das práticas/processos constituem a base de uma dinâmica eco-social de carácter geral.
A definição por extensão, do sistema eco-social, pode entender-se como compreendendo a comunidade humana e as suas interacções internas, bem como os elementos materiais que de alguma forma estão em relação com o homem. O conjunto material está conformado por um amplo agregado de elementos característicos dos ecossistemas naturais com os quais o homem está relacionado e tem coevoluído (alimentos, parasitas, organismos que vivem em simbiose, microrganismos e a rede de organismos interdependentes), bem como, os fluxos de matéria e energia implicados nestas relações.
É de considerar como elementos materiais do sistema eco-social, os artefactos que o homem produz a partir dos recursos naturais e os espaços em que interage através das suas actividades sociais e produtivas, como são os edifícios, as cidades, os instrumentos de trabalho, as infra-estruturas, os campos de cultivo, a flora e a fauna. As interacções derivadas das práticas e processos sociais compreendem os sistemas terrestres e os impactos provocados em larga escala, os fluxos de nutrientes no mar, a circulação atmosférica ou a radiação solar incidente.
É de ponderar que uma das características mais transcendentes do sistema eco-social, é o fluxo de informação, mediatizado por uma dialéctica de significados, que condiciona diversas organizações sociais como são a educação, política, conflitos, produção de recursos materiais e culturais, consumo ou a produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. É evidente que face a esta descrição tem de se considerar, no entanto, que a organização e dinâmica do sistema eco-social se desenvolve não tanto a partir dos seus elementos, mas através dos seus processos, dependências e inter-relações (processos de produção, comunicação, depredação, intercâmbio, consumo).
O sistema eco-social apresenta uma dinâmica social não destacável da dinâmica própria do conjunto material descrito, e rege-se inicialmente pelas propriedades que se atribuem ao resto dos sistemas complexos. O comportamento e a evolução do ecossistema social vêm modelados, por um segundo nível de organização, pelo modo como os processos materiais e as práticas sociais se estabelecem, em função das relações de significado social de natureza semiótica. O sistema eco-social considerado de forma genérica manifesta-se em concreto em sistemas específicos do mesmo tipo e natureza, que se desenvolvem em diferentes lugares ou momentos históricos.
Tais sistemas, devem ser considerados como sistemas equivalentes aos ecossistemas, pois, como estes, são complexos, abertos, dinâmicos, desperdiçam energia e apresentam capacidades de auto-organização, desenvolvimento e evolução. São sistemas epigenéticos, porquanto apresentam um comportamento muito previsível e uma organização hierárquica, sendo regulados pelo seu meio, super sistema no qual estão imersos e que é muito estável e adaptável às mudanças que se produzem no subsistema subjacente.
Os sistemas eco-sociais, interiormente, não são homogéneos, apresentando uma estrutura em mosaico, com partes ou subsistemas do sistema eco-social que se encontram em diferentes níveis de desenvolvimento, com composição e padrões de relações diferentes dos característicos destes estados. É por meio da língua (comunicação) que se constroem as relações de significado que enlaçadas entre si, dão sentido às práticas ou processos sociais no modelo de uma formação semiótica. Assim, as formações discursivas construídas com a linguagem guiam as práticas das actividades sociais, da arquitectura, agricultura ou da indústria, entre todas as demais.
A linguagem, dentro do sistema eco-social, tem um papel idêntico ao do código genético, dado que tanto a linguagem, como o ADN, são os instrumentos básicos de expressão da informação. A informação, manifesta-se no sistema eco-social, como processos materiais ou com significados que ao concretizar as práticas sociais, expressam também, processos materiais. A teoria dos discursos culturais, como formações semióticas sociais proporciona a base do modelo de uma teoria geral sobre as formações sociais.
A semiótica social menciona que os sinais, acções e práticas sociais apresentam uma natureza semiótica. Este conjunto de recursos semióticos conforma a cultura de uma comunidade. Neste sentido, as culturas são sistemas sociais semióticos de natureza dinâmica, onde se manifestam um conjunto de sinais, factos e práticas sociais que se vão alterando no tempo. A partir de cada prática social surgem sinais ou sistemas de sinais (como recursos semióticos), que permitem executar uma determinada forma de comportamento, de determinar acções significativas (abrangidas a palavra e as declarações).
A forma normal de desenvolver estas acções significativas num contexto ou numa comunidade de interesse comum é mediante uma formação semiótica adequada. Assim, cada formação semiótica reúne os padrões de recursos semióticos, que uma comunidade considera como adequados ou convenientes, segundo a sua tradição histórica e cultural, como por exemplo, um estilo arquitectónico e um tipo de construção associado, que é o resultado da utilização de uma formação semiótica, implicando um sistema de sinais, acções e práticas coerentes com a qual a arquitectura, política e os membros da comunidade envolvidos entendem dever ser a arquitectura.