No entanto, alguns dos seus ciclos, processam-se com tal lentidão que só podem ser entendidos se regressarmos a milhões de anos atrás, retrocedendo no tempo geológico. Deste modo, a ciência da geologia pode ser considerada a quarta dimensão da ciência dos sistemas da Terra. Ela fornece a perspectiva que nos permite recuar no passado da Terra e entender os seus longos processos.
Além disso, fornece a base científica para espreitarmos de outra forma pelo telescópio do tempo e prevermos as mudanças globais futuras, em especial agora que a actividade humana ameaça induzi-las. A geologia é a ciência da Terra do passado e do futuro. Apesar das paródias por esse mundo que todos os dias assistimos pela televisão, sobre consciência pública ou cívica, a geologia está impregnada no funcionamento da sociedade.
Numa extremidade da máquina da civilização, os geólogos fornecem as numerosas matérias-primas produzidas no subsolo. Os minérios metálicos fornecem ferro ou alumínio, minérios industriais como a argila, a areia, a gravilha, o calcário para o cimento dentro de uma lista extensa e variada. Mais necessária de todas é a água existente no subsolo, que complementa ou substitui as reservas de água à superfície em muitas regiões do mundo. Segue-se o desenvolvimento da geologia no funcionamento da sociedade. Os geólogos ajudam a determinar o uso adequado do solo.
Ajudam a projectar as fundações dos edifícios, das pontes e de outras estruturas de grande dimensão. Pronunciam-se quanto a escavações superficiais ou de túneis, com especial incidência na sua estabilidade e no efeito do fluxo de água subterrânea. Na extremidade de saída da sociedade, os geólogos interessam-se pelo armazenamento seguro ou pela dispersão de resíduos sólidos e líquidos à superfície ou no subsolo. Também são chamados a pronunciar-se sobre as soluções a adoptar quanto a emissões tóxicas inesperadas poluíram o solo e a água subterrânea.
A quarta preocupação da geologia ambiental consiste em prever ou minimizar os impactos de acidentes geológicos, como sismos, erupções vulcânicas, desmoronamentos, aluimento de terras, erosão costeira ou infiltrações de gás radon.
O petróleo, o gás natural e o carvão satisfazem a maior parte das necessidades energéticas mundiais. As rochas e os minerais fornecem as matérias-primas destinadas à construção do ambiente e a muitos dos seus produtos industriais. Virá o tempo em que os recursos que presentemente subtraímos ao mundo subdesenvolvido se esgotarão, talvez mais rápido, e em que o resto do mundo se recusará a colaborar por mais tempo na sua própria espoliação.
Haverá algum sistema alternativo que possamos criar para a nossa sociedade? Primeiro, temos de aceitar que nem tudo está bem, e creio que isso é óbvio e todos reconhecerão. No entanto, é possível classificar alguns pontos, a começar pelo nível global com alterações crescentes na composição da atmosfera. Aumentam as radiações ultravioletas nocivas que atingem o solo e registam-se mudanças das temperaturas globais e difíceis de humidade a um ritmo sem precedentes.
Segue-se o ritmo alarmante a que cresce a população mundial, e que é maior em regiões onde a única forma de fazer frente à insegurança material é um par de mãos suplementar, e onde a instrução das mulheres é muitas vezes suprimida. Podemos acrescentar a desflorestação generalizada, a erosão do solo e a desertificação, muitas vezes associada à destruição de sistemas tradicionais devido à influência do comércio.
Segue-se a pesca excessiva em larga escala, a quase extinção de várias espécies de baleias e de um número crescente de espécies de mamíferos terrestres e de aves, e as repercussões da agricultura intensiva moderna nas zonas rurais. Ao nível da sociedade, existe um número cada vez maior de pequenos conflitos armados, a preocupação com a defesa e a produção de armas (o comércio mundial de armas, que tanto beneficia a nossa sociedade tecnológica, torna esses confrontos muito mais intensos e prolongados do que seriam de outro modo).
As reacções da sociedade tecnológica ocidental a todos estes problemas consistem ou em negar a sua existência, ou em tentar soluções de compromisso. Talvez alguns problemas se revelem menos insolúveis do que parecem. Mas não faltam candidatos e seria surpreendente que muita gente estivesse enganada acerca de tudo. Paul Kennedy no seu livro “Towards the 21st Century”, faz previsões fascinantes, mas que não implicam soluções. Segundo o seu prognóstico, continuará a haver vencedores e vencidos e os espaços que os separam aumentarão.
Haverá cada vez mais tensões, incluindo deslocações maciças de pessoas das regiões menos favorecidas para as mais prósperas. Pelo seu texto perpassa a noção de que, na sua maior parte, o mundo não conseguirá desenvencilhar-se bem, das imposições ditadas pelas alterações climáticas, pela crescente automatização da indústria e pela biotecnologia na produção alimentar.
Talvez seja necessário um conjunto de mudanças bastante radicais. É preciso reconhecer que, em última análise, não é possível manter uma sociedade que julga poder explorar os recursos indefinidamente, ou que, na falta deles, através da tecnologia, encontrará sempre substitutos cujo crescimento económico seja imparável. Estas ideias carecem de bom senso, sobretudo quando a população mundial atingir entre 9 a 11 mil milhões de pessoas em 2050.
A sociedade tem vindo a ser limitada pelos recursos, mas recusa-se a encarar esse facto, devido essencialmente à possibilidade de explorar todos os recursos no resto do mundo, tanto no domínio da força de trabalho como no das matérias-primas.