A rapidez a que se processa a mudança é que é importante. Segundo o “IPCC”, é provável que seja maior agora que nos últimos 10 mil anos, e a subida do nível dos mares será três a seis vezes mais rápida do que nos últimos 100 anos. Embarcámos numa corrida imparável para o aquecimento global. Mesmo que todas as emissões de gases de estufa provocadas pelo homem fossem interrompidas, cerca de metade do aumento da concentração de dióxido de carbono, provocada pelas actividades humanas seria visível no fim do século.
Qual seria então o efeito futuro nas cidades? Mais uma vez, atentamos nos seus recursos, na saúde, nos números e em factores externos. Num mundo cada vez mais urbano, as cidades tornar-se-ão mais vulneráveis à degradação das suas fontes de alimentos, água e combustíveis, com os problemas ligados à terra, à água e à poluição do ar que nos acompanham.
Mais solo é cedido aos tijolos, à pedra, ao cimento e à expansão urbana. Mas a mudança mais significativa no uso do solo é a aceleração da destruição das florestas em todo o mundo e o declínio da fertilidade dos solos. Segundo um relatório do “World Resource Institute”, cerca de 13 por cento da vegetação que sustenta a superfície da Terra, encontra-se num estado de degradação entre moderado e extremo, numa área equivalente à superfície da China e Índia juntas. Embora a cobertura vegetal esteja a aumentar, ligeiramente nos países desenvolvidos, a sua destruição generalizada, e o consequente desaparecimento de algumas espécies, verifica-se a uma escala que é suficiente para alterar o ecossistema global.
Os países pobres continuam a depender da madeira para o combustível. O tratamento de resíduos pode transformar-se num problema maior do que o consumo de recursos. Actualmente, nenhuma parte do mundo está livre dos resíduos produzidos pela actividade industrial. A poluição e os acidentes recentes demonstram que os perigos industriais são intencionais por natureza. Cerca de 17 por cento do vasto território da Ex-União Soviética, foi considerado há cerca de quinze anos área de desastre ecológico, pela Academia de Ciências do Reino Unido.
O efeito dos agentes químicos podem ser limitados, mas o destino dos resíduos químicos é um problema mundial. A procura de água doce aumentou entre 1940 e 1980, e duplicou de novo no ano 2000. Há cada vez mais pessoas que precisam de mais água. Muitos países conhecem já os efeitos da escassez e da seca. A luta pela água foi uma das principais fontes de conflito no passado, e sê-lo-á no futuro.
Os problemas levantados pela satisfação desta procura são agravados pela contaminação crescente, incluindo dificuldades decorrentes do escoamento e dos esgotos, florescências algáceas resultantes da poluição dos nitratos, a salinização e a toxicidade do alumínio. Existe uma dependência perigosa da rega. Neste século, as pressões exercidas nas reservas alimentares por uma população mundial em crescimento, e uma maior expectativa de vida, virá de muitos quadrantes desde a mudança de zonas climáticas, alteração dos métodos de cultivo da terra, de criação de gado e exploração piscícola, menos água para rega e menos solo arável, devido à desertificação ou à subida do nível do mar.
As regiões semiáridas são particularmente vulneráveis a secas ou inundações. As cidades são especialmente vulneráveis à mudança de clima, porque possuem um clima artificial. Menos zonas verdes equivalem a menos chuvas e a menos transpiração das plantas, a uma maior absorção das radiações e a temperaturas mais elevadas. Os edifícios absorvem o calor e não conservam a humidade, portanto a evaporação é menor. Tudo isto conduz àquilo a que se designou por “ilhas urbanas de calor”, com temperaturas mais altas, menos vento e humidade, mais nebulosidade, nevoeiros e misturas de nevoeiro e de fumo. É obvio que a saúde humana está em risco.
A subida da temperatura e as alterações na precipitação aumentaram a capacidade de multiplicação e de propagação de vírus, bactérias e insectos. A proliferação de organismos que se adaptam rapidamente, faz aumentar as doenças vectoriais. O aumento subsequente dos pesticidas poderia ser nocivo para a saúde, e a deterioração da qualidade da água beneficia patógenos com origem na água como a cólera. A fraca qualidade do ar provoca inflamações e doenças respiratórias.
Quase todos os anos morrem cerca de cinco milhões de crianças com doenças respiratórias nos países pobres. Cidades como Atenas, Budapeste, Londres, Los Angeles, Cidade do México, Pequim, Praga, São Paulo e Xangai têm níveis elevados de ozono, monóxido de carbono, dióxido de enxofre e outros poluentes. A exposição à poluição do ar é pior do que se julgava até ao presente.
As autópsias a jovens que foram vítimas de acidentes em Los Angeles revelaram que 80 por cento tinham graves lesões pulmonares. Poucos são os governos que publicam este tipo de dados extremamente importantes, que avalizam as correctas políticas ambientais e o real estado do ambiente local. As crianças, que respiram uma quantidade de ar quatro vezes superior à dos adultos devido ao facto de terem os pulmões mais pequenos e de serem mais activas, são particularmente vulneráveis à poluição atmosférica.
Desde 1990 que a Cidade do México tem encerrado as suas escolas, por períodos relativamente longos devido aos elevados níveis de ozono. A crise continua. Os aumentos de radiações ultravioletas nocivas, devido à destruição da camada de ozono por moléculas fabricadas pelo homem, como os clorofluorcarbonetos, enfraquecem o sistema imunitário e provocam cancro da pele e cataratas.
Todos os problemas de saúde se agravam substancialmente nos países pobres, onde a concentração nas cidades é maior. Mas o número crescente de refugiados levanta um problema específico. Numa visão estritamente política, o aumento tem sido assustador de década para década, quase triplicando.
Existe um número não quantificado de refugiados por motivos ambientais, ou de migrantes que por razões económicas está a aumentar descontroladamente. Como é óbvio, as cidades contribuirão para uma multiplicidade de factores e serão afectados por eles, que vão da instabilidade política e económica à competição mundial pelos recursos. As cidades são capazes de reagir a crises de curta duração, mas não se adaptam com facilidade a mudanças duradouras.
Assim, a água doce pode ser trazida de longe, mas os custos desta operação poderão vir a tornar-se incomportáveis. A subida do nível do mar constitui um perigo mais directo. Quase metade da população mundial vive no litoral, nas margens e nos estuários dos rios. Estima-se que cerca de 80 por cento das cidades se encontrem em perigo. Entre elas contam-se Alexandria, Banguecoque, Dacar, Nova Orleães, Amesterdão, São Petersburgo, Sidney e Londres. Uma subida de meio metro, cerca do ano 2100 teria amplas consequências.
A Holanda é particularmente vulnerável, visto que 27 por cento do seu território está abaixo do nível do mar, e 60 por cento está a menos de um metro acima dele. Uma pequena subida provocaria a ruptura dos sistema de esgotos e de drenagem, a corrosão das estruturas, uma susceptibilidade acrescida às tempestades e a outros fenómenos naturais, a alteração do “habitat”, a elevação dos lençóis freáticos, a salinização da água e a contaminação de reservas de água doce.
No passado, os especialistas em planeamento urbano tentaram evitar as questões e recorreram a expedientes de curto prazo. As pessoas vão cada vez mais longe à procura de recursos. Levam os resíduos para outros locais. Constroem-se chaminés mais altas para dispersar a poluição. As barragens e os sistemas de protecção costeira são construídos, sem que se tenha em consideração a subida do nível do mar. Os subúrbios proliferam. A vegetação regressa à paisagem urbana.
Não há dúvida de que são necessárias medidas mais radicais a longo prazo. A visão do futuro da cidade, tem de ter em conta a realidade de que, cada vez mais gente, nos países desenvolvidos e países de economias emergentes, trabalhará em casa, dada a revolução constante nas tecnologias de informação. É demasiado tarde para evitarmos, se é que poderíamos ter evitado a mudança ambiental.
Mas podemos fazer muito para mitigar os seus efeitos e nos adaptarmos, assim como às nossas instituições e às nossas cidades. Não estamos a lidar com um só factor, o clima, mas com uma vasta combinação de factores, como o aumento da população, degradação ambiental, poluição e perda de diversidade. A ciência, como a própria vida, está cheia de surpresas, umas boas, outras más.
O problema não é a mudança, mas o ritmo dessa mudança. A sociedade humana é frágil, tanto dentro como fora das cidades. Todas as civilizações anteriores soçobraram. Em última análise estamos sujeitos a condicionalismos biológicos como qualquer outra espécie animal. Mas ao contrário delas, podemos modelar conscientemente o nosso futuro. Se não conseguirmos fazê-lo, só nos poderemos culpar a nós próprios.