“To understand the persistent disconnect between returns on capital and the cost of capital, think of one economy called Chimerica: the sum of China, the world’s most rapidly growing emerging market, and America, the world’s most financially advanced developed economy. Chimerica accounts for only 13 per cent of the world’s land surface, but a quarter of its population and fully a third its GDP. What’s more, it’s accounted for over 60 per cent of the cumulative growth in world GDP over the past five years.”
Chimerica and global asset markets
Niall Ferguson e Moritz Schularick
A Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), a 18 de Setembro de 2007, baixou a taxa de juro de referência pela primeira vez, em quatro anos, para compensar as perdas do sector bancário mais exposto ao crédito hipotecário. Várias instituições bancárias ligadas à construção, vinham desde Março desse ano, a avisar para as possíveis e enormes perdas no sector de “subprime” (crédito de alto risco).
O Congresso dos Estados Unidos, a 7 de Março do passado ano, inicia uma investigação às indemnizações milionárias recebidas por administradores e directores de instituições bancárias e financeiras, que abandonaram os seus cargos por virtude da crise financeira. Os prejuízos dos bancos de investimento têm sido de tal grandeza que se tornou imperioso redimensionarem a venda de activos, e exemplarmente verificado com a situação do banco de investimento Morgan Stanley.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), a 6 de Abril do mesmo ano, defendeu a tese da necessidade de uma intervenção dos países a nível mundial para aliviar a crise dos mercados financeiros. Os bancos centrais iniciam as operações de injecções massivas de capital, para suster a contracção de crédito e a desconfiança criada no mercado interbancário.
A falência de um dos cinco maiores bancos de investimento do mundo, o Lehman Brothers, a 14 de Setembro, faz soar mais alto o alarme a nível mundial e imediatamente o mercado é intervencionado por uma acção conjunta dos bancos centrais americano, europeu, japonês, canadiano, inglês e suíço. O Congresso dos Estados Unidos, em descontrolo, chama a depor o Secretário de Estado do Tesouro e os Presidentes da Fed e da Comissão de operações em Bolsa (SEC).
O governo americano, a 3 de Outubro, decide aplicar um plano de resgate do sector financeiro, traduzido na injecção de 700 mil milhões de dólares, aprovados pelo Senado. A Fed efectou um programa de emissão de papel comercial, que permitiu maiores facilidades de crédito a curto prazo. O banco de investimentos Merril Lynch é adquirido pelo Bank of America.
Os países da “Zona euro”, a 13 de Outubro, aprovaram um plano de acções que permitia recapitalizar as instituições financeiras e garantir os depósitos. Tais medidas, vieram posteriormente a abarcar as agências que avaliam os créditos em carteira e atribuem os “ratings”, a que equivalem diferentes níveis de risco, com o fim de garantir a sua independência e credibilidade.
A queda bolsista da Wall Street, considerada como a queda do muro de Berlim do capitalismo podia ser interpretada como o fim do século americano, com o consequente recuo económico e político dos Estados Unidos, que arrasta por simpatia a UE.
Após tal tombo, não existiam motivos para o mundo continuar a seguir o modelo americano de mercado livre. Há dez anos os neoconservadores alegavam que o resto do mundo deveria seguir a via americana ou preparar-se para uma crise que os conduziria à era democrática.
Mas, igualmente arrogantes eram os neoliberais, que defendiam que os demais países deveriam antecipar-se e aceitar o denominado Consenso de Washington, para desenvolver o comércio, combater a inflação e estimular o investimento estrangeiro. Uma corrente de pensamento combatia o esgotamento político do mundo muçulmano; a outra arremetia-se contra o capitalismo corrompido da Ásia, apontado como a causa da crise dos mercados asiáticos de 1997-1998. Tudo se inclinava para o fim do fundamentalismo de mercado, nas palavras do maior especulador mundial, George Soros.
O grupo dos dois ora formado, são um produto da crise que mudou os paradigmas da política e o equilíbrio global.
Por outro lado, pareciam existir sinais suficientes para serem refeitos os vínculos entre os dois lados do Atlântico. Não parece ser por enquanto essa a direcção a seguir pelos Estados Unidos perante a resistência da UE, e especialmente da Alemanha, em comprometer-se em matérias consideradas básicas para a saída da crise. O presidente americano necessita de êxitos aparentes e recuou nesses temas chave, seguidos pela Comissão Europeia e Alemanha, para se focar na Turquia e países muçulmanos moderados.
As cimeiras até ao momento realizadas tinham como agenda principal a crise sistémica que erradamente é apelidada de global, dado que as economias dos maiores países emergentes passaram quase ao largo. Na miríade de posições europeias, aos Estados Unidos apenas lhe interessa a posição alemã. Todos os acordos que excluam a Alemanha, serão inúteis e tudo o que não a inclua fora da UE, poderá ser útil.
O desacordo dos dois países, passa fundamentalmente por duas matérias e tem por fundo a capacidade e conveniência da Alemanha em igualar os pacotes de incentivos chineses de quase 600 mil milhões de dólares e dos Estados Unidos de quase 800 mil milhões de dólares.
O presidente americano entra no que com maior propriedade se pode chamar de “Chinamérica 2”, com receio de que o país maior exportador do mundo “per capita”, use os seus recursos de reactivação para vender em maiores quantidades no exterior. Os Estados Unidos crêem que sendo correcto e legítimo que se estimule o seu mercado interno, a Alemanha e outros países terão de partilhar dessa obrigação. A Alemanha desde logo se opõe e para evitar maiores males os Estados Unidos não exercerão maior pressão.
A segunda matéria de divergência contende com o resgate de bancos privados na Europa Central e Oriental, na sua maioria controlados por entidades pertencentes a países da “Zona euro”, nomeadamente, alemãs, austríacas e italianas.
A Alemanha recusou os esforços europeus conjuntos e preferiu canalizá-los através do FMI. O motivo era simples, uma vez, que a instituição recolhe fundos dos Estados Unidos, China, Japão e outros países. Assim, os europeus participariam do salvamento com terceiros. Mais tarde, no último encontro da NATO, os europeus recusaram enviar um número substancialmente maior de efectivos militares para o Afeganistão e Paquistão. Eram cerca de 5 mil militares, muitos dos quais ficariam até às eleições que se realizaram no Afeganistão, a 21 de Agosto. Tal atitude não era esperada pelo presidente americano.
Quanto aos paraísos fiscais, foi decidida uma cooperação demasiado exígua, sem definir as medidas a adoptar na Cimeira do G-20, realizada em Edimburgo, a 2 de Abril. É de supor que a cimeira do mesmo grupo de países, a realizar em Washington, a 15 de Novembro, irá centrar a sua agenda, novamente nos assuntos financeiros mais prementes.
Existe todavia, um pormenor significativo, dado que após se ter feito a apologia de um regime regulatório internacional, a UE não conseguiu chegar a um consenso acerca das suas regras, por virtude do Reino Unido ter recusado a proposta da Alemanha e da França, pois colocava em inferioridade o seu sistema bancário, historicamente remisso a regulações.
É claro que perante todas estas circunstâncias, o presidente americano investe de forma mais intensa em termos políticos. Na República Checa, o presidente americano apoiou a adesão plena da Turquia à UE, ainda que alguns Estados-membros se oponham por diversas razões, especialmente, a dos Balcãs terem ficado abertos aos emigrantes turcos. Questão de definitivo confronto entre os Estados Unidos e a UE.