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Muitos destes textos estavam no baú do esquecimento. Não por falta de valor, mas por excesso de tempo. Foram escritos em noites longas, em tardes suspensas, em momentos em que a urgência de dizer era maior do que a vontade de mostrar. Ficaram guardados não por vergonha, mas por respeito. Porque há palavras que precisam de maturar, como o vinho e como o silêncio. Decidi rever. Não com olhos de censura, mas com olhos de escuta. Voltei a cada linha como quem visita uma casa antiga; com cuidado, memória e espanto. Algumas frases pediram para ficar como estavam. Outras imploraram por mudança. E houve aquelas que só agora fizeram sentido. Actualizei. Não para apagar o passado, mas para dialogar com o presente. Os textos ganharam novas cores, novos ritmos, novos silêncios. Mantiveram a alma, mas vestiram-se de tempo. Porque escrever é isso; um gesto que se prolonga, que se transforma e que se renova. E publiquei. Não por vaidade, mas por partilha. Porque há palavras que não nasceram para o segredo. Há ideias que só respiram quando lidas. E há emoções que, ao serem reconhecidas por outros, encontram finalmente o seu lugar. Estes textos são fragmentos de mim; de quem fui, de quem sou, de quem estou a aprender a ser. São testemunhos de uma travessia interior, de uma escuta demorada e de uma escrita que resistiu ao esquecimento. E agora, finalmente, estão prontos para existir fora do baú.
A ansiedade não grita, sussurra. Não chega com aviso, infiltra-se. Está no nó da garganta, na insónia que não se explica e na respiração curta diante do nada. É um ruído de fundo que distorce o mundo, que transforma o possível em ameaça e que sabota a paz antes mesmo que ela se instale. Acabar com a ansiedade não é calá-la; é compreendê-la. Não é vencê-la com força; é dissolvê-la com lucidez. Porque a ansiedade não é defeito; é sinal. E todo o sinal merece escuta, não punição.
A ansiedade nasce da ilusão de controlo. Da tentativa desesperada de prever o imprevisível, de garantir o incerto, de dominar o que nunca foi nosso. O futuro, por definição, escapa. E quanto mais se tenta agarrá-lo, mais fere. O primeiro passo para acabar com a ansiedade é abdicar da obsessão pelo controlo. É aceitar que viver é arriscar, que amar é expor-se e que existir é não saber. A paz não está em controlar tudo mas em confiar no que não se controla.
Antes da mente, o corpo sente. A ansiedade começa no estômago, no peito, na pele. É o corpo que avisa, que alerta e que reage. E é no corpo que a cura começa. Respirar fundo, alongar, caminhar, dormir são gestos que reeducam o sistema nervoso, que reprogramam a resposta ao mundo. Acabar com a ansiedade exige escuta corporal. Não há técnica mental que funcione num corpo em alerta constante. A paz precisa de espaço físico e esse espaço começa com cuidado.
A mente ansiosa não vê o real; projecta. Cria cenários catastróficos, interpreta silêncios como rejeição e transforma dúvidas em certezas negativas. É uma máquina de antecipação que é tóxica. Reeducar a mente é parte essencial da travessia. Aprender a questionar pensamentos, a observar sem julgar e a interromper padrões. A mente não precisa de ser inimiga pois pode ser aliada. Mas para isso, precisa de ser treinada com gentileza e firmeza.
O Caso Altice representa um dos mais significativos episódios de investigação criminal no sector empresarial português da última década. Envolvendo altos quadros da Altice Portugal, a investigação iniciada em 2023 incide sobre suspeitas de corrupção no sector privado, fraude fiscal agravada e branqueamento de capitais. O impacto do caso transcende os limites da empresa, atingindo contratos públicos, práticas de gestão e a confiança nas instituições económicas. Este texto propõe uma análise crítica e multidisciplinar do caso, articulando dimensões jurídicas, económicas e ético-institucionais, com especial atenção ao papel das grandes empresas na integridade do mercado e na transparência das relações com o Estado.
A Altice Portugal é uma das maiores operadoras de telecomunicações do país, detentora da marca MEO e de infra-estruturas estratégicas de comunicação. Desde a aquisição da antiga Portugal Telecom, a Altice consolidou uma posição dominante no mercado, com influência significativa em áreas como internet, televisão, telefonia móvel e serviços empresariais. A sua dimensão económica e tecnológica confere-lhe um papel central na modernização digital do país, mas também exige elevados padrões de responsabilidade e conformidade legal.
A estrutura empresarial da Altice é complexa, com ramificações internacionais e múltiplas subsidiárias. A gestão de activos, a contratação de fornecedores e a alienação de património são áreas sensíveis, sujeitas a escrutínio legal e fiscal. Neste contexto, as suspeitas de práticas ilícitas levantam questões sobre os mecanismos internos de controlo, a cultura empresarial e a relação com o poder político.
O Caso Tutti Frutti representa um dos episódios mais controversos da justiça portuguesa contemporânea, envolvendo alegações de favorecimento político, manipulação de listas eleitorais e distribuição de cargos entre partidos. No centro da investigação encontra-se Fernando Medina, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e figura de destaque no Partido Socialista, recentemente constituído arguido por suspeitas de prevaricação. Este texto propõe uma análise crítica e multidisciplinar do caso, articulando dimensões jurídicas, ético-políticas e institucionais, com especial atenção ao impacto sobre a confiança democrática e a integridade das práticas partidárias.
A prevaricação, enquanto crime funcional, pressupõe que um titular de cargo político tome uma decisão contrária à lei, com intenção de beneficiar ou prejudicar terceiros. Trata-se de uma infracção que visa proteger a imparcialidade da função pública e a legalidade administrativa. O favorecimento político, embora não tipificado como crime autónomo, pode configurar práticas como tráfico de influência, abuso de poder ou participação económica em negócio, dependendo da forma como se concretiza.
No caso em análise, as suspeitas incidem sobre alegadas decisões tomadas por Fernando Medina enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que teriam beneficiado determinadas entidades ou indivíduos com ligações partidárias, através da atribuição de apoios financeiros ou nomeações. A complexidade reside em distinguir entre decisões políticas legítimas e actos que ultrapassam os limites da legalidade e da ética pública.
Durante o mandato de Medina, a Câmara Municipal de Lisboa operava num modelo de governação colegial, com decisões tomadas por maioria dos vereadores. A atribuição de apoios ao associativismo, a gestão de recursos humanos e a articulação com juntas de freguesia eram áreas sensíveis, sujeitas a deliberação política e pareceres técnicos. A defesa do arguido sustenta que as decisões em causa foram aprovadas por unanimidade e que não houve qualquer actuação individual fora do quadro legal.
Contudo, a investigação aponta para a existência de acordos informais entre dirigentes partidários, com vista à manipulação de listas eleitorais e à distribuição de cargos em freguesias específicas. A alegação de que tais práticas foram coordenadas a partir da presidência da câmara levanta questões sobre a separação entre decisão política e gestão administrativa.